Retalhar mobiliza sociedade civil e outras 20 empresas para combater frio nas ruas

Iniciativa produziu e distribuiu mais de 11 mil cobertores para pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade.

A Retalhar, a população e outras 20 empresas formaram parceria para promover impacto socioambiental positivo em tempos de frio. Além de gerar renda inclusiva para trabalhadores em estado de vulnerabilidade, a ação reaproveitou mais de 14 toneladas de uniformes profissionais, produzindo 11.520 cobertores para pessoas que vivem em situação de rua. 

A Nespresso, SPMar, AB Concessões, Bradesco, Sociedade Esportiva Palmeiras, Ajinomoto, Bodytech, Duquima, Ulma Packaging, Johann Alimentos, SEW, Makro Atacadista, Transjordano, Leroy Merlin, Arcelor Mittal, Wilson Sons, Epiroc, Leccor, Unimed Campinas e Cleanic Ambiental toparam o desafio de fazer a diferença e se uniram à Campanha de Inverno da Retalhar, enquanto pessoas da sociedade civil se engajaram na Campanha Existe Calor em SP, que foi realizada em parceria com o Instituto Ninho Social e com apoio da Cotton Move e Souza & Cambos.

Pessoas e empresas aderiram à Campanha Existe Calor em SP

A iniciativa teve duas frentes importantes. Uma delas contou com a participação de pessoas físicas, que puderam realizar suas doações a partir de R$20,00 por meio da plataforma do Projeto Atalho. A iniciativa levou proteção e acolhimento para pessoas em situação de rua, por meio da distribuição de 478 cobertores feitos a partir da recuperação de resíduos têxteis e 744 máscaras distribuídos para pessoas em situação de rua em São Paulo, itens estes distribuídos pelo Instituto Ninho Social.

A outra partiu de empresas que se engajaram na causa, destinando seus uniformes para a Retalhar reciclar e transformá-los em cobertores populares.

Impacto socioambiental positivo

Além de causar impacto social positivo por meio do combate ao frio nas ruas da cidade de São Paulo e da geração de R$39.899,78  para trabalhadores em situação de vulnerabilidade, a ação resultou em bons frutos para o meio ambiente. 

Mais de quatorze toneladas de uniformes deixaram de ser enviadas para aterros sanitários, evitando que fossem geradas 218,56 toneladas de CO2 equivalente. Para compensar essas emissões de outra forma seria necessário plantar mais de 1.500 árvores.  No final das contas, o volume de aterro poupado (111,36 m³) foi o equivalente a 30 carros populares. 

Marcas conscientes têm a chance de ser o “novo normal” do mundo pós-pandemia

Pesquisas revelam que consumidores estão mais conscientes sobre questões ambientais e não querem o retorno ao mundo como era antes da pandemia

 

O isolamento social ocasionado pela pandemia do novo coronavírus trouxe desafios, mas também gerou reflexão e possibilitou o vislumbre de um mundo diferente. Nesse contexto, a indústria têxtil e outros setores têm a oportunidade única de recomeçar e atender consumidores que anseiam por um mundo mais consciente em termos socioambientais. 

Pandemias e degradação ambiental 

 

No modelo econômico vigente – baseado em uma economia linear – os recursos naturais são extraídos até o seu esgotamento. Nesse processo, os resíduos não retornam para a cadeia de produção e o resultado é um ambiente poluído, pobre em biodiversidade, socialmente excludente e insalubre. A disseminação do novo coronavírus a nível mundial trouxe à tona essa relação entre saúde e ambiente. Mas já era de conhecimento dos cientistas ambientais que habitats poluídos e degradados aceleram os processos evolutivos de patógenos, promovendo e diversificando doenças, uma vez que aumenta a migração de micro-organismos para rebanhos e seres humanos. 

 

Nesse sentido, é possível imaginar dois desfechos possíveis para o modo como a sociedade tem lidado com a pandemia. O primeiro é caracterizado por uma tentativa de retorno ao mundo pré-Covid, em que, apesar de não ser o ideal, era o que conhecíamos. Já, o segundo, ainda desconhecido, convida à construção do que tem se chamado popularmente de “novo normal”. 

Pessoas não querem a volta ao antigo “normal” 

 

Pesquisas mostram que a construção do “novo normal” é um desejo da maioria. De acordo com levantamento de enquetes feito pelo jornal The Guardian, menos de 13% das pessoas gostariam que o mundo fosse exatamente como era antes”. Outras três enquetes com a mesma pergunta revelaram que esse número chegava a cair para 13%, 9% e impressionantes 6%. Na lista dos desejos, um deles era: “um mundo com menos poluição e destruição ambiental”. 

 

Esses dados indicam que, além de desafios, o isolamento social proporcionou às pessoas o vislumbre de uma sociedade diferente e possivelmente melhor, pautada em um “novo normal”. Mas o desejo de mudança já existia antes mesmo da chegada do novo coronavírus. No Brasil, pesquisas anteriores à pandemia feitas pela GlobeScan e o Instituto Akatu mostraram que o consumidor brasileiro está aumentando a sua consciência ambiental. Na pesquisa, esse fato ficou mais evidente quando o tema envolvia mudanças de comportamentos com relação a resíduos, mobilidade e alimentação.

Oportunidade para o setor têxtil 

 

Os resultados das pesquisas mencionadas apontam oportunidades para as marcas construírem uma relação de confiança e compromisso com seus stakeholders e contribuírem para a solução de questões ambientais, sociais e econômicas urgentes. Em outras palavras, o momento desafiador também pode ser interpretado como uma chance de mudança. E no setor têxtil não é diferente. 


A indústria tem a oportunidade única de recomeçar e construir novos sistemas em que aspectos socioambientais e colaboração prevaleçam para gerar oportunidades iguais e um ambiente saudável. Novos pactos podem ser estabelecidos entre produtores, fabricantes, distribuidores e recicladores. Cadeias inteiras podem ser integradas, gerarem renda compartilhada e impacto social positivo, principalmente por meio da transição de uma economia linear para a circular, aumentando, por exemplo, rastreabilidade, qualificação e quantificação dos seus impactos reais e formas de mitigação, como a reciclagem de resíduos têxteis.

Campanha “Existe Amor em SP” leva acolhimento para pessoas em situação de rua

Parceria entre Retalhar e Instituto Ninho Social distribui máscaras e cobertores feitos a partir de resíduos têxteis

Líderes mundiais e especialistas da área de saúde afirmam que a chegada do inverno pode ser um período de maior disseminação do novo coronavírus e que as populações vulneráveis socialmente, como aquelas em situação de rua, serão afetadas de forma mais severa. Ao mesmo tempo, dados oficiais revelam aumento da desigualdade social e que até mesmo em cidades ricas, como São Paulo, o número de pessoas vivendo nas ruas é significativo. Por isso, em uma parceria, a Retalhar e o Instituto Ninho Social lançaram a campanha “Existe Amor em SP”. A ideia é distribuir máscaras de tecido e cobertores para a população vulnerável a partir da reciclagem de resíduos têxteis.

Período de inverno não é igual para todos

No Brasil, o inverno se inicia no final de junho e acaba no final de setembro, sendo o período mais frio do ano. Em São Paulo, quando é mais rigoroso, ele pode chegar à temperatura recorde de -2,1ºC. Isso não seria um problema se todas as pessoas tivessem como se aquecer dentro de suas residências. Mas, segundo dados da prefeitura de São Paulo do ano de 2019, há 24.344 pessoas em situação de rua, onde o frio é mais intenso. 

Desigualdade exacerbada pela chegada do novo coronavírus 

De acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a COVID-19 exacerbou as desigualdades nacionais e criou novas disparidades que estão atingindo as pessoas mais vulneráveis de forma mais severa, como aquelas que vivem nas ruas. 

Nesse sentido, a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) da ONU, Carissa F. Etienne, alertou que a preparação para o inverno é fundamental para que todos latinos-americanos possam mitigar a disseminação do novo coronavírus, sejam pessoas que vivem nas ruas ou que habitam residências. Segundo Etienne, o inverno “alimenta infecções respiratórias – como influenza sazonal e pneumonia – que podem se espalhar rapidamente em climas mais frios e à medida em que mais pessoas se reúnem em ambientes fechados para se aquecer”.  

Propondo soluções para esse cenário, a  líder técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a COVID-19, Maria Van Kerkhove, afirma que há formas de prevenir a si mesmo da infecção e de evitar a transmissão do vírus para outras pessoas. Além de se manter bem informado, segundo ela, é preciso fazer o que muitas pessoas já sabem: lavar as mãos, praticar o isolamento social e usar máscara de proteção. 

Campanha “Existe Calor em SP”

Pensando no inverno da população que habita as ruas, a Retalhar e o Instituto Ninho Social – organização que atua com pessoas em situação de vulnerabilidade  –  lançaram a campanha “Existe Calor em SP”. A parceria, que conta com o apoio da Cotton Move e Souza & Campos, está transformando resíduos têxteis em calor e acolhimento para a população em situação de rua: são confeccionadas máscaras de tecido e cobertores que são doados ao longo do inverno de 2020. Para saber como você pode colaborar com essa campanha, dê uma olhada no endereço: https://www.projetoatalho.com.br/existecaloremsp.

Além disso, há oportunidade de engajamento para empresas: aquelas que contratarem o serviço de destinação correta, segura e responsável de uniformes com a Retalhar durante o mês de Julho também poderão contribuir para o combate ao frio e à COVID-19 nas ruas paulistanas aderindo ao Pacote Solidário, com condições especiais para que o impacto social positivo seja ainda maior.

Pandemia convida sociedade a repensar gestão dos resíduos

Pesquisadores e catadores apontam desafios no modelo de gestão de resíduos agravados pela disseminação do novo coronavírus e o CEO da Retalhar dá sua opinião a respeito 

A pandemia da Covid-19 aumentou o uso de embalagens de uso único, máscaras não reutilizáveis e luvas, impondo novos desafios à sociedade. Esse fato é evidenciado pelos relatos de catadores e pelo aumento da quantidade desses itens encontrada no ambiente por pesquisadores, em diferentes regiões do mundo. 

Aumento do uso de embalagens, máscaras e luvas 

De acordo com o Jornal The Guardian, mergulhadores membros da Opération Mer Propre, que atuam coletando resíduos na Côte d’Azur, na França, ficaram preocupados ao encontrar luvas, máscaras e embalagens de antissépticos no mar Mediterrâneo. Segundo o mesmo jornal, a OceansAsia, de Hong Kong, também demonstrou preocupação depois que pesquisadores acharam 70 máscaras em apenas 100 metros de uma ilha completamente inabitada, revelando que o aumento no uso desses itens e sua destinação incorreta já estão gerando poluição para o ambiente. 

No Brasil, o cenário é semelhante. O catador Roberto Rocha conta, no episódio 61 do podcastVozes do Planeta”, que a coleta de recicláveis aumentou durante a pandemia, sem crescimento correspondente na taxa de reciclagem. Ele afirma que o volume de resíduos destinado de modo incorreto cresceu principalmente por causa dos deliverys e que, quando os itens não escapam para o ambiente (ou são jogados intencionalmente), estão sendo enviados diretamente para os aterros sanitários, sem reciclagem. 

Destinação incorreta e saúde dos catadores

Como se não bastasse o cenário dos itens recicláveis que têm escapado para o ambiente ou ido parar no aterro sanitário sem reciclagem, alguns consumidores têm enviado rejeitos perigosos para cooperativas de reciclagem. “Eles estão recebendo muita luva e muita máscara e ficam apavorados quando abrem os sacos com esses itens”, conta Roberto. De acordo com as experiências recentes do catador, as pessoas estão colocando máscaras e luvas usadas no material destinado para a reciclagem, o que aumenta o medo e a vulnerabilidade dos trabalhadores ao vírus. 

Papel dos governos, empresas e pessoas 

Ellen Caroline, colega de trabalho do Roberto, acrescenta que é preciso haver conscientização sobre a importância de não colocar resíduos perigosos, como máscaras usadas, no destino dos recicláveis. Em relação aos recicláveis, ela afirma que eles precisam ser lavados e deixados de quarentena antes de serem enviados para a coleta seletiva, de preferência em sacos azuis, que são próprios para isso. Já as máscaras e luvas usadas precisam ser bem embaladas, deixadas de quarentena e colocadas no destino dos rejeitos. 

Ambos catadores acreditam que é preciso haver políticas inclusivas, e não o que eles chamam de “assistencialismo”. É necessário haver valorização do trabalho de catação como um negócio viável e aumentar o uso de máscaras reutilizáveis, com um melhor desenho. Além disso, o número de empresas recicladoras também precisa crescer, pois separar o material para a coleta seletiva não é suficiente, já que é preciso que a reciclagem aconteça, de fato.

De acordo com o CEO da Retalhar  “nesse momento, as empresas são os agentes com as melhores condições de combinar agilidade, escala e engajamento de massa”. Para ele, “o  contexto pede ações concretas para reduzir os danos aos mais necessitados sem deixar de redirecionar posicionamentos – e os próprios modelos de negócio – para caminhos de conciliação. Parece pouco provável que tenhamos sucesso a nível nacional e global sem o engajamento direto do setor empresarial. Afinal de contas, não teremos, por exemplo, um grande volume de empresas recicladoras se não houver demanda por material reciclado partindo dos grandes players do mercado”.